Placa Preta: O Troféu Cobiçado para Veículos Antigos
Modelo de fundo escuro e letras prateadas, que atesta a originalidade do veículo, quase perdeu seu glamour com a chegada do modelo padrão Mercosul
Para o proprietário de carro antigo, a placa preta é como se fosse um troféu muito cobiçado. A conquista acaba valorizando o bem em relação aos demais modelos do mesmo ano, além de ser uma realização pessoal para o dono.
Ser visto atrás do volante de um veículo com chapa de fundo escuro e letras brancas é um atestado de que mais de 80% de suas características ainda são originais, mesmo com 30 anos ou mais de fabricação. E legitima um excelente estado de conservação, por ter sido bem cuidado ao longo da vida.
No entanto, a magia de ostentar a placa preta por pouco não se perdeu com a adoção do padrão Mercosul em 2020. O novo design trazia o fundo branco com letras prateadas.
Além de ficar muito parecida com a dos veículos convencionais, a mudança acabava com um dos grandes diferenciais estéticos de um automóvel antigo, conservado à custa de muito esforço e dinheiro investido.
A insatisfação dos colecionadores foi grande, a ponto de solicitarem à Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) a volta da placa tradicional, instituída oficialmente em 1998.
“Foi uma ducha de água fria para os antigomobilistas, deixando para trás a tradição de décadas da placa preta. Tornou-se difícil a diferenciação do que era um veículo de coleção de um veículo de passageiro convencional”, observa Augusto Goldschmidt Mósca, presidente da Federação Brasileira de Veículos Antigos (FBVA).
Volta do estilo consagrado

E os colecionadores foram ouvidos. Em janeiro de 2022, houve um lançamento simbólico da nova placa com fundo preto e letras brancas, realizado em Curitiba, numa iniciativa entre o Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR) e a FBVA. Em junho, o clássico modelo voltou a vigorar oficialmente.
“A placa preta não é uma questão estética e nem financeira. É uma questão histórica. Cada carro antigo carrega sua história, sua família”, pontuou Wagner Mesquita, à época diretor-geral do Detran-PR e proprietário de um Volkswagen Fusca, ano 1968.
Para o dirigente da FBVA, que também é sócio do Nictheroy Clube de Veículos Antigos, do Opala Clube do Rio de Janeiro e do Passat Clube do Rio de Janeiro, o retorno do fundo preto significou o reconhecimento da necessidade de haver uma distinção maior entre o veículo de coleção original e os demais.
“A placa preta é o reconhecimento de que a pessoa possui um veículo notadamente de coleção, tendo sido avaliado com base em critérios rígidos e atingido 80 pontos ou mais. Para muitos colecionadores, mais do que ter a placa preta, é ter um certificado de que seu veículo é original”, ressalta.

Emissão da placa preta
Para obter o licenciamento especial tão desejado por antigomobilistas, é necessário passar por uma avaliação feita por entidades credenciadas ao Senatran. Uma delas é a FBVA, que congrega atualmente 218 clubes filiados, dispersos pelo Brasil.
São os clubes os encarregados de fazer a vistoria no veículo e encaminhar à federação, que, por sua vez, irá analisar o processo e emitir o Certificado de Veículo de Coleção (CVCOL), também conhecido como Certificado de Originalidade.

O documento, então, é enviado ao clube solicitante, que repassa ao proprietário do veículo. Este dá entrada no pedido da placa preta junto ao Detran. Todo o processo pode levar de um a dois meses.
No levantamento mais recente da Secretaria Nacional de Trânsito, divulgado em setembro de 2022, a categoria “carro de coleção” registrava 76.142 veículos.
“Por ano, a FBVA certifica por volta de mil veículos, contudo vale salientar que não é a única entidade credenciada ao Senatran para tal finalidade”, salienta Augusto Mósca. Há clubes não federados que foram diretamente credenciados pelo órgão máximo de trânsito e emitem seus próprios certificados.
Requisito básico é ser sócio de clube

Uma das condições para pleitear uma placa preta é ser integrante de um clube automotivo. Cada grupo tem seus próprios critérios para realizar a inspeção nos veículos.
Geralmente, o dono preenche uma Solicitação de Vistoria, na qual declara que o bem fará parte da “coleção” do clube, comprometendo-se a permanecer sócio. Não é necessário ter mais de um automóvel clássico, desde que este faça parte de um acervo, no caso, do clube em que é sócio.
A avaliação que vai atestar a autenticidade é realizada com base em uma planilha de pontuação. Nos clubes federados, há um modelo padrão elaborado pela FBVA, dividido entre carros e picapes, caminhões e motocicletas.
Na planilha dos automóveis, consta quatro tipos de avaliação: mecânica, elétrica, parte externa e interior. Itens como pintura, cromados e acabamentos, por exemplo, compõem a parte externa. E cada um desses itens é formado por vários subitens, que, se não estiverem de acordo, farão o clássico perder alguns pontinhos. Para estar apto a conquistar uma placa preta, o veículo precisa atingir pelo menos 80 pontos de um total de 100.
“O carro não pode ser rebaixado, usar película de proteção, acessórios fora de época, motores mexidos, turbo compressor, rodas fora dos padrões da época, entre outros”, aponta Glenys Maria Bessler, presidente do Clube Feminino de Automóveis Antigos e Especiais do Paraná – Elas Clube.

O grupo é um dos federados responsáveis pela vistoria no estado. Entre os exemplares que já passaram pelo crivo dos inspetores do clube, está o Volkswagen Fusca, ano 1972, do governador Ratinho Júnior, que certamente estará entre os modelos expostos no dia 14 de janeiro.
Vale reforçar que alterações na carroceria, substituição do motor original por um de outra marca ou modelo e rebaixamento do conjunto da suspensão também são situações que já desclassificam o “candidato”.
Caso o parecer seja negativo, algumas melhorias podem ser sugeridas para que o carro possa ser certificado. E após o Certificado de Originalidade ser entregue no Detran, no novo documento a espécie do automóvel vai mudar de “passageiro” para “coleção”.

O Preço da placa preta GIRA EM TORNO DE R$ 1,2 MIL
Por ser uma entidade sem fins lucrativos e filantrópico, o Elas Clube não cobra adesão de novos sócios, nem mensalidade, somente os custos pela emissão do certificado de originalidade.
“Todo o trâmite junto ao Detran, placas e taxas de expediente vai gerar um investimento em torno de R$ 1.250, podendo variar conforme a documentação do veículo”, observa Glenys. No grupo, o exemplar placa preta mais antigo é um Ford 1928.
Um detalhe importante: a resolução que resgatou a placa preta tradicional tem validade nacional apenas. Sendo assim, quem for fazer viagens pelo Mercosul com carro deve retornar ao padrão anterior.
Além disso, o CVCOL tem duração de 60 meses, ou 5 anos, sendo obrigatória a renovação após esse prazo. Se houver a venda do bem, um novo CVCOL será emitido para o novo proprietário.

1 Comentário
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Tenho moto com mais de trinta anos quero colocar placa coleção. vou tentar.