Desafio do Dinamômetro: moto CRF mais forte do Brasil tem sotaque alemão
O preparador Willian Wink entra para a história do velocross nacional como o primeiro a vencer o inédito Desafio do Dinamômetro, realizado no Brasileiro da modalidade, em Campina Grande do Sul (PR)
O colar com um maço de notas de R$ 100, somando uma premiação de R$ 11 mil, estava longe de ser a motivação principal para a maioria dos 11 mecânicos que participaram do primeiro Desafio Nacional do Dinamômetro. Eles buscavam uma conquista ainda maior: ser reconhecido como o preparador da Honda CRF 250F mais forte do Brasil.
Foi com esse propósito que William “Alemão” Wink partiu da pequena Segredo, distante 264 km de Porto Alegre (RS), para a disputa do Sportbay Brasileiro de Arena Velocross. O evento realizado no fim de novembro de 2023 em Campina Grande do Sul, na Grande Curitiba, marcava, após sete anos, a volta da competição e a reabertura da Arena Velocross – uma das maiores pistas cobertas do gênero no país.
William e sua equipe, a Alemão Performance, já tinham motivos para comemorar após o bom desempenho de suas motos entre as 64 que duelaram na Arena no sábado (25 de novembro). Guilherme Zaparoli terminou em terceiro e Lucas Puntel em sexto na Intermediária Nacional.
Contudo, a emoção maior ficaria reservada para o dia seguinte com o Desafio do Dinamômetro. Os competidores ganhavam o direito de participar da inédita disputa com base na classificação para as finais das provas no sábado. Após isso, as motocicletas eram levadas para um parque fechado sob a supervisão de fiscais.
No domingo de manhã (26), o desafio seguia um regulamento rigoroso, organizado por Calistrat Neto, chefe de equipe da Escuderia X, com o apoio da MILITEC Brasil. A prova quase foi cancelada devido a problemas técnicos no equipamento, aumentando a ansiedade dos preparadores, especialmente de Alemão, que transmitia o evento ao vivo em seu perfil no Instagram.
Dobradinha no pódio
À medida que as 13 motos classificadas aceleravam no dinamômetro em terceira e quinta marchas, produzindo um barulho ensurdecedor, a expectativa aumentava. Quando os nomes de Bia Machado e Rafa Valentini foram anunciados para subir com suas motos no aparelho de aferição, o coração de William Wink acelerou mais do que seus pilotos na pista.
No dia anterior, a dupla havia conquistado as vagas com duas CRFs 250F preparadas exclusivamente para o desafio pela oficina Alemão Performance.
“Eu vim para Campina Grande do Sul com o único objetivo de classificar a moto para o desafio e levar o cobiçado troféu. Até fui bem na prova de sábado, mas o intuito era estar no desafio”, ressaltou a paulista Beatriz “Bia” Machado, de 18 anos, natural de Ibiúna (SP).
Sua CRF 250F foi uma das primeiras a competir, atingindo 51,39 cv na terceira marcha, levando o público ao delírio. A Honda de Rafa Valentini também teve um ótimo desempenho, ficando muito próxima da marca da colega, com 50,54 cv.
A euforia tomou conta da equipe da Alemão Performance quando a última puxada no dinamômetro foi concluída, pois suas duas motos foram as únicas a ultrapassar os 50 cv, garantindo o primeiro e o segundo lugares no pódio. Em terceiro lugar, com 49,56 cv, ficou a CRF pilotada por Jordan Martini, da oficina Tiagueira Racing, de Cruz Alta (RS).
Mais jovem preparador do desafio
William Wink era pura emoção, sem conter as lágrimas com a importante conquista. “Sou o preparador mais jovem da competição e tenho oficina há apenas quatro anos. Hoje eu posso dizer que tenho a CRF mais forte do Brasil”, soltou o gaúcho de 29 anos.
A sensação dele era de dever cumprido depois que escolheu fechar sua oficina por quase um mês para trabalhar nas motos, de maneira incansável até de madrugada.
O mecânico revelou que o prêmio ganho não chega nem perto do que gastou na preparação dos modelos. Para ele, o que importava era o reconhecimento por colocar seus dois projetos nos primeiros lugares.
“Se eu tivesse produzido normalmente nesse período, levantaria muito mais que os R$ 11 mil. Mas, optei por não pegar mais serviço e me dedicar somente para esse evento. E, agora, posso bater no peito e dizer que tenho a moto 250F mais forte do Brasil”, não cansava de repetir com um estilo peculiar de falar, típico da descendência alemã e que faz jus ao apelido.
Os modelos campeões saíram de uma oficina praticamente escondida num sítio em Segredo. Para chegar até lá, é preciso andar 12 quilômetros de “estrada de chão, mata adentro”, explicou Alemão. O preparador disse acreditar que o fato de ser um local retirado é uma diferença nos seus trabalhos.
“Eu faço 100% das minhas motos na minha oficina. Não terceirizo retífica, não terceirizo nada. Tudo sou eu que faço. Vou testando e vendo o que funciona ou não. E o resultado veio”, justificou.
De marceneiro a preparador profissional
A preparação de motos até pouco tempo era apenas um hobby para o ex-marceneiro, que antes atuava na empresa do pai fazendo carroceria de caminhão e móveis. Somente em 2018, os projetos em duas rodas viraram sua atividade principal com a abertura da oficina no interior do Rio Grande do Sul.
Ele contou que desde o início postava tudo que fazia. E, muitas vezes, era alvo de críticas na forma como preparava o motor. “Ia fazendo, consertando os erros e nunca desistindo. Hoje eu vivo de moto, de competição e preparação. Tenho trabalhos no Brasil inteiro”, destacou o gaúcho, atualmente com 105 mil seguidores no perfil do Instagram – só no fim de semana do desafio do dinamômetro, ele ganhou quase 5 mil novos inscritos.
Os clientes da Alemão Performance são de várias regiões do país. Alguns chegam a rodar 2 mil quilômetros para levar seu veículo até a oficina em Segredo.
“Eu deixo o motor pronto, com todas as peças. O cliente chega na parte da manhã, vê eu abrir e fechar o motor e testar no dinamômetro. Eu faço toda a preparação na frente do dono. Ele já leva a moto embora no mesmo dia. É o que eu mais faço hoje”, explicou o preparador, que tem na CRF 250F seu carro-chefe.
Competidor da cidade mais longe
Não foi só a Alemão Performance que faturou uma premiação no desafio realizado no Paraná. Uma equipe de Bonito (MS) embolsou R$ 500 por vir da cidade mais distante do local da competição – rodaram 1.150 km a bordo de uma picape até Campina Grande do Sul.
“Foi uma experiência diferente. A estrutura da Arena e o evento em si, foram muito bacanas. A moto que participou do desafio foi preparada em 2021 e, desde então, não passou por uma atualização. Também compete nas provas do jeito que foi feita lá atrás”, disse José Ricardo Hara Teixeira, piloto e responsável pelo time.
A ideia de lançar o desafio para conhecer a CRF 250F mais forte do Brasil surgiu depois que competidores levantaram a dúvida de qual equipe tinha a modelo com a preparação mais potente. Para tirar isso a limpo, Calistrat Neto decidiu criar a disputa como cereja do bolo para a volta do Brasileiro na Arena Velocross.
“Fui atrás de patrocinadores, que toparam participar de imediato. Pilotos e preparadores compraram a ideia de maneira magnífica, de vir e passar a moto no dinamômetro. Aqui é a pontinha do iceberg, de todo o trabalho e doação desses profissionais, que se internam em suas oficinas para fazer o melhor projeto”, valorizou Cale Neto, como é mais conhecido.
O organizador afirmou que o Desafio do Dinamômetro passará a ser anual, sempre fechando o Brasileiro de Velocross. E já adiantou que para a edição de 2024 a premiação será dobrada. “No mínimo, R$ 22 mil para a CRF mais forte do Brasil”, garante.
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